Um dia de cada vez
Ontem fui à clÃnica para fazer mais um tratamento.
Cheguei muito cedo, li duas revistas, dei umas voltas e voltei a sentar-me.
A sala estava cheia de gente e fiquei a observar quem me rodeava, coisa que sempre gostei de fazer.
Uma senhora, sentada ao meu lado, ainda tentou começar uma conversa mas eu não estava para aà virada e limitei-me a sorrir.
Mais ao fundo estava um grupo de pessoas de uma certa idade.
Um senhor aparentando os seus setenta anos disse:
- " Pois, agora é viver um dia de cada vez...sem pensar em grandes coisas para o futuro."
Eu própria já repeti esta frase algumas vezes e já a ouvi outras tantas, mas ontem fez-me pensar melhor no seu significado.
Eu não sei o que significa viver um dia de cada vez...afinal todos nós o fazemos pois não conseguimos mexer no tempo nem retirar ou adicionar minutos a cada dia.
Parece-me que talvez haja duas maneiras de o fazer...
Quem vive cada hora do dia em pleno, tem uma vida cheia de coisas para contar mas não tem espaço para planos, projectos, objectivos e sonhos.
Isso deixa-me um bocadinho triste, não poder planear os meus dias futuros, não traçar um rumo a seguir, não saber o que quero fazer nem para onde vou...não sou capaz de ser assim...não consigo acordar e pensar o que vou fazer nesse dia sem que este tenha seguimento, não consigo parar à noite e no dia seguinte voltar a pensar o que vou fazer nesse dia e assim por diante...parece que falta sempre qualquer coisa...
Por outro lado, quando passamos a vida a pensar apenas no futuro, no que queremos atingir, no que vamos fazer um dia, no que queremos vir a ter ou fazer, acabamos por não apreciar nenhum dos momentos do dia em que estamos, porque são apenas uma passagem para o futuro...a vida vive-se sem sabor...apenas com objectivos a atingir...
Tenho tentado viver num misto destas duas realidades, gozar o momento e projectar-me no futuro, nunca esquecendo o que se vai passando pois afinal é o que vivo e que passa a ser passado que faz de mim o que sou...
Esta parece-me ser a forma ideal de viver, se é que isso existe...
Mas é então que surge uma outra variável, a que quase nunca damos importância, chamada destino... que em poucos minutos ou segundos nos vira a vida de pernas para o ar sem avisar, sem nos preparar...
Tudo isto me faz pensar...qual o meu papel nesta vida? Qual a melhor forma de a viver?
Limitar-me a um dia de cada vez e esperar para ver o que acontece e aà adaptar-me ao que há?
Ou trabalhar para alcançar o que quero e esperar que aconteça?
Quem sabe se tentar adivinhar o meu futuro não será uma opção????
De todos os caminhos que escolhi, nunca cheguei ao fim de nenhum, pois o tal de destino sempre arranjou maneira de me cortar a passagem. Dá-me outras opções de escolha é certo, mas parece que a minha vida tem sido uma sequência monótona de tentativa e erro...
Nunca concretizei nada do que me propus...
Sempre aconteceu alguma coisa que me cortou o entusiasmo ou a possibilidade de continuar...
É triste?
Talvez seja triste viver uma vida de falhanços, mas eu não a vejo assim...
Prefiro ver o meu percurso como um processo de APRENDIZAGEMÂ contÃnuo onde consigo provar a mim mesma que sou capaz de fazer tantas coisas diferentes...
Um dia...sei que chegará um dia em que tudo o que tenho passado me vai ser muito útil...em que tudo vai fazer sentido e em que o que sou verdadeiramente se vai revelar...
E nesse dia, quer o viva intensamente, quer o passe a projectar o futuro, sei que me vou sentir feliz e realizada....
Espero que não falte muito...
Até lá fiquem bem...