Estado de espirito...
“ Conhecermo-nos é dificil, mas darmo-nos a conhecer será das piores coisas a fazer ou, pelo menos, tentar. Persistirá sempre a duvida do que vai no pensamento dos outros. Como saber o que pensam realmente de nós esses outros que nos limitam e condicionam como se de seres importantes se tratassem? Pensei e reflecti e cheguei à conclusão que no mundo não há ninguém realmente merecedor de me conhecer nos meus momentos tão intimos de glorificação. Eis a razão deste manuscrito…serás tu que vais conhecer aquilo que me define, as coisas que me explicam e revelam. Deverei estar numa fase dificil com toda esta furia de me revelar ou poderá ser apenas um acto de puro narcisismo em que me sinto importante ou pode ser outra coisa qualquer…não sei. Sei que estou aqui em tom de conversa, em tom de monólogo uma vez que não me respondes, disposta a revelar um ser… não que seja grande personalidade nem conhecida de muitas gentes ou gentes influentes. Não possuo ninguém que me promova ou faça alarde de mim, mas tudo o que sinto é puro, tudo o que faço é sentido. A minha vida é banal mas sofrida e tudo tem uma dimensão lógica que encaixa num espaço e num tempo. E só no meu espaço e no meu tempo posso ser compreendida, só aqui faço algum sentido. Aqui estou ouvindo as ondas bater furiosamente nas rochas como se elas fossem as culpadas, a ouvir o vento a empurrar as ondas cheias de espuma formando um lençol branco imenso e crispado… é assim que eu me sinto, é com isto que me identifico, com esta força bruta de uma natureza agreste que se exprime num barulho medonho e assustador mas que transmite uma serenidade que me completa. Estou em fase de paragem e estagnação, integrada no tempo e no espaço que escolhi só para mim, para pensar serenamente na vida que levo, no que tenho e no que procuro e vim parar aqui ao fim de um mundo civilizado onde ninguém me conhece e eu com ninguém falo, para estar só, para que não possam interferir naquilo que sou. Faço um balanço de tudo…atitudes tomadas e posições assumidas e no fim de contas até pode não valer a pena tanto esforço e dedicação e esta entrega permanente de quem vive a vida segundo a sua vontade. Tu que me ouves, tu que ouves e não julgas, tu que me serás confidente, tu que me aceitas sem criticas, tu que me amas sem condições, sem imposições, tu que me conhecerás como só eu…Já olhaste o mar? Já sentiste a impotência de olhar o mar? Com toda a sua imensidão e transparência…é enorme…tão vasto, tão calmo, cheio de todos os bons sentimentos, dele corre um vento forte e magestoso, sobre ele correm, sem nunca se cansarem, milhares de pequenas paredes de água, caminhando para terra, fustigando-a num misto de força a lealdade. O mar…força da Natureza… com que me identifico em pleno, é ele que me acalma, é ele que me fortalece, revigorante e imponente, manda-me de volta para a vida de todos os dias com nova força, com novo vigor, com todos os sentimentos de quem quer mudar o mundo, dá-me de novo o alento que os outros me tiram, dá-me de volta toda a esperança que a vida me tira e que só algo perfeito consegue dar. Através do seu barulho aterrador, oiço os conselhos de quem me quer bem, com a sua luz que se difunde, consigo iluminar o meu caminho, com a sua imagem imagino e descrevo o meu modo de estar perante o mundo…”