Linha 5 e linha 8

Como qualquer comboio que se preze, tenho passado os meus dias, rolando pelos carris, sempre seguindo na direcção estabelecida…sem grande apresentação, tenho percorrido o meu caminho, nas carruagens normais, a velocidade de cruzeiro, andando… nem depressa nem devagar. Um dia reparei numa outra composição que seguia no mesmo sentido que eu. Andávamos na vida de linhas comerciais, com estações e passageiros. Eu na linha 5 e ele na linha 8. Por um acaso, um dia em que ambos saimos para um passeio por outras paragens, travei conhecimento com ele…e pensei:“ Que sorte…não há muitas carruagens a vir por aqui…assim já tenho companhia!”
Começámos uma viagem surpresa, sem destino nem planos, sem direcção definida nem regras estabelecidas…iamos apenas…por essas linhas fora. Conversavamos e corriamos velozes sem rumo mas em permanente êxtase com as paisagens que se nos deparavam. À medida que corriamos e descobriamos caminhos por onde nunca tinhamos andado, sentiamos uma enorme vontade de ir mais além… A velocidade de cruzeiro rápidamente aumentou e havia alturas em que quase corriamos, loucos de felicidade por termos encontrado companhia numa viagem que ambos julgavamos solitária. O meu entusiasmo era tanto que não me apercebi de que a minha composição, embalada, ganhava velocidade e a outra já andava em esforço para me acompanhar. Foi perdendo velocidade apesar do meu entusiasmo e da sua vontade de correr a meu lado. Um dia quando o questionei de se ter atrasado numa curva mais apertada, com desânimo respondeu-me: “ Tu não vês que não tenho capacidade para te acompanhar? A máquina está em esforço e já tenho alguma dificuldade em manter a tua velocidade. Apesar destes nossos passeios terem sido os melhores da minha vida, eu sempre soube que um simples comboio como eu não poderia nunca viajar com um como tu. A tua máquina é poderosa e a minha comum e tenho a certeza que não te posso acompanhar durante muito mais tempo”. Apesar dos meus esforços para o fazer mudar de ideias, de lhe emprestar a minha potência, de o rebocar e até empurrar nas subidas mais íngremes, o meu companheiro de viagem , a pouco e pouco foi deixando de aparecer nos nossos passeios secretos. Hoje, voltámos às linhas normais, às estações e apeadeiros…eu na linha 5… ele na linha 8, ainda caminhamos lado a lado, na mesma direcção, com os mesmos objectivos mas com duas linhas entre nós e sem partilhar a aventura da descoberta.

publicado por Viver Alentejo às 20:58 | comentar | ver comentários (3) | favorito