1989...

Parei. Parei para pensar.
Fiquei eu, estava só eu.
Tudo estava escuro, eu, tu e o mundo.
Só peço um sinal, só uma luz e nada mais.
Vibrações de desejo passaram por mim, passaram por nós,
Eu fiquei, fui ficando.
Senti-me vazia e super lotada de um confronto desconhecido.
Ou eu e tu ou os outros.
Estava calor.
Mas eu seguia, seguia sempre nunca podendo parar.
Volta-me as costas ou aposta tudo comigo,
Ou tudo ou nada, ou nós ou ninguém,
Não quero distâncias, muros ou abismos,
Ou somos dois e um ou não vale a pena.
SubiÂ…estava frio.
A luz não vinha, não veio
E eu continuava a subir até ti, até mim,
O fogo queimava,
O frio aumentava e eu ardia contigo
Chamas apagadas de desejos perdidos nos outros,
Vozes surdas querendo fazer-se ouvir,
Afastadas pelo vento do tem que ser,
Eu subia contra a corrente do dever
Que me arrastava para os outros e me separava de mim,
O “quero” que se julgava sentido, bloqueava,
Proibia, magoava acima de tudo,
Vozes, vozes de presença que eram e faziam ser.
Não suporto mais o tenho que…
Quero apostar tudo no quero.
E o que é que eu quero?
Quero ser e quero que sejas,
Quero sentir-te meu e que me sintas tua, que me faças sentir mulher,
Que te entregues a mim como homem.
O calor gela-me o sangue nas veias,
Quero respirar, ficar comigo e andar sempre.



Então um dia o céu fica claro…
Agora eu vejo e desço,
Sofucadamente livre, demasiadamente eu,
Aí vou ter contigo,
Sejas tu quem fores, para te conhecer,
Para finalmente sermos os dois, para nós.
Já sem presenças alheias, sem vozes de comando,
Sem ter que abandonar o jogo,
Sem os outros,
Então podemos ser,
Podemos gritar o que somos,
Sentir o que fazemos, ter o que queremos,
Depois voltamos a subir,
Os dois como um só,
O fogo volta a queimar,
O frio corta-nos,
Nada disto faz sentido
E nunca teve tanta razão de ser.
publicado por Viver Alentejo às 23:18 | comentar | favorito